Matéria escrita Giulliana Bianconi
Matéria publicada originalmente no site Instituto Claro Em Pauta
30 SETEMBRO 2011
Os personagens consagrados de títulos infantis precisaram sair dos livros para ganharem vida décadas atrás, na TV e nos cinemas. Agora, nas próprias páginas dos livros, eles não somente se tornaram personagens animados, com voz e movimento, como convidam os leitores a interagirem de maneiras diversas enquanto a narrativa avança.
É a era dos livros digitais, cujo impacto para leitores – e também escritores e editoras- vai bem além da mudança do suporte de papel para digital.
Se os primeiros e-books eram arquivos em PDF e a diferença em relação ao livro de papel estava, basicamente, em serem acessados digitalmente, hoje a distância entre os dois formatos, forjada pela engenharia dos softwares, já é imensa. “Agora o céu é o limite, e o que a gente pensa a área de tecnologia faz”, conta a escritora carioca Bia Hetzel, também sócia da editora Manati.
Neste ano, a editora fez parceria com uma agência de tecnologia digital e publicou o clássico “Os Três Porquinhos” para tablets, um livro de imagens que oferece duas narrações em áudio – a do lobo e a da mãe dos porcos – e permite ainda que o leitor grave a sua própria narração. Com cara de aplicativo, o livro, que oferece atividades extras como pinturas digitais, é um dos mais baixados na Apple Store Brasil.
Pesquisador de e-books desde 1998, autor de “O Livro na Era Digital” e editor na Livrus, Ednei Procópio observa que o mercado vive a euforia dos livros digitais, mas nem sempre leva em conta o usuário e o conteúdo. “Estes elementos devem estar no centro”, diz, antes de explicar: “Livros infantis ganham muito com as possibilidades dos softwares, que enriquecem a narrativa, assim como acontece com as narrativas policiais, afinal imagine poder acessar um mapa do local onde o crime da história aconteceu? Mas para outros gêneros pode não funcionar, e aí que sentido faz ter algo saltando ou algum barulho acompanhando a narrativa?”.
Softwares e hardwares fazem parte da discussão diária de quem trabalha no mercado editorial, mas Procópio diz que atrelada a isso está a reflexão sobre distribuição, pois na cultura digital os usuários são muito menos induzidos pelas editoras e livrarias.
“Antes o leitor chegava à livraria, e a ‘conversa’ estava estabelecida nas vitrines e nas prateleiras. Se o mercado quisesse induzir os leitores a comprarem livros sobre anjos, por exemplo, eles estariam em destaque por toda a parte no ambiente.Agora não funciona mais assim.”
Para acompanhar esse novo consumidor, Procópio trabalha em um projeto de distribuição que contará com uma biblioteca virtual com mais de 80 mil títulos, onde o usuário poderá encontrar o que lhe interessa por palavras-chave e escolher se quer ler na versão digital ou impressa. Os que optarem pelo digital poderão ainda selecionar em qual tipo de tela querem visualizar – smartphones, tablets, netbooks etc. Os que clicarem em impresso poderão imprimir o seu próprio livro. “As editoras precisam se adaptar. Não adianta ficar apenas tentando entender o rumo do mercado, é preciso fazer parte dele. Os recursos para isso já estão à disposição até mesmo para as pequenas editoras”, diz.