Falta conteúdo de qualidade em língua portuguesa, preços mais populares para os reading devices, mas, principalmente, conexão à internet
O Brasil continua sendo um país de contrastes. Se, por um lado, segundo a consultoria IDC, a venda de smartphones cresceu 20% no último 3º trimestre de 2013 [em comparação com o trimestre anterior]; por outro lado, segundo os dados do IBGE do fim de 2012, pelo menos 86 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais, ou 49,1% de um total de 169 milhões de pessoas nessa faixa etária, não teriam acesso a internet.
Pela leveza dos arquivos, um livro digital pode ser acessado, baixado e consumido com uma velocidade abaixo dos 1,5 Mbps considerados pela União Internacional de Telecomunicações [UIT]. Mas desde o meu segundo livro, e em breve no terceiro a ser lançado pela Editora do Senai, venho insistindo na tese de que, além do avanço na popularização dos hardwares usados para a leitura [smartphones, tablets, e-readers, etc.], e na melhoria da interface dos aplicativos, precisamos melhorar também o acesso a conexão à internet para que o consumo dos eBooks se popularizem ainda mais.
Segundo a própria UIT, órgão da ONU, 61,2% da população mundial, ou seja, 4,3 bilhões de pessoas, está desconectada. Em nosso país, este percentual é representado principalmente pela população presente nas classes C, D e E, e nas regiões Norte e Nordeste. Um dos desafios para o governo federal [através do Programa Nacional de Banda Larga], para tornar o acesso à internet um serviço social básico, é a infra-estrutura. A iniciativa privada, as operadas, relutam em oferecer conexão às pequenas cidades pois, segundo eles, o custo operacional se inviabiliza pela demanda econômica.
O problema da universalização da internet em nosso país não tem a ver apenas com acesso ao Facebook [isso é uma grande bobagem], na verdade, tem paralelos nos demais serviços sociais básicos como água, luz, esgoto, saúde e educação. Um povo sem acesso a informação [que seja através dos livros, da tevê ou do rádio] não mantém condições mínimas de se preparar para viver sua função de cidadão no mundo. E, neste cenário, em 2011, apenas 46,7% dos brasileiros estava conectada. E que, portanto, poderia ter representatividade nas redes sociais no debate dos rumos do país.
Para o presente, para que possamos oferecer eBooks ao mercado consumidor brasileiro, precisamos pensar quanto deste percentual que hoje está conectado tem um reading device nas mãos. Quantos já tem o aplicativo de leitura de livros digitais instalado em suas máquinas. E finalmente, se o conteúdo que estamos oferecendo, hoje na casa dos 20 mil títulos legais, são o conteúdo que esta parcela estaria interessada em acessar, comprar e ler.
Para o futuro, temos aqui dois desafios básicos para todo o mercado, principalmente o editorial. O primeiro é a questão da formação de novos leitores e a segundo é a questão central da formação de consumidores de livros [daqueles que se sentem alfabetizados e politicamente letrados]. Ambos os desafios embora pareçam estar intimamente ligadas, na verdade, são questões de longo prazo que devem entrar tanto na agenda política quanto na agenda econômica de nosso país [lê-se: governo e empresariado].