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O DNA dos Livros

Baseado nas previsões de cientistas na área de computação, até os livros, no futuro, seriam, ao mesmo tempo, átomos e bits.

Não tem jeito, antes mesmo que o mercado editorial tente compreender até as atuais mudanças, as inovações tecnológicas da Era Digital acabam por interferir desproporcionalmente na sobrevivência de uma indústria que gira ao redor do artefato livro.

Forçando uma tese, três poderiam ser os fatores básicos que ajudariam o mercado editorial a compreender o futuro de um universo para os livros. Citamos, a seguir, os três fatores básicos mais como exercício de entendimento do que a tentativa de se criar uma nova teoria:

• A tecnologia utilizada na criação, armazenamento e acesso aos livros
• O cenário de acesso, consumo e leitura dos livros
• O modelo de exploração comercial no consumo dos livros

Um modelo de exploração comercial, adequado ou não, está fora de qualquer tese que pudéssemos alcançar, pois dependeria da dinâmica dos dois primeiros itens para fazer sentido e poder funcionar. No mesmo sentido, um cenário de acesso, consumo e leitura dependeria também de inúmeros fatores dos quais não temos ainda parâmetros mais precisos do ponto de vista em que agora nos encontramos.

Assim, só nos resta especular, num bom sentido, a tecnologia utilizada futuramente no armazenamento e acesso aos livros.

Estamos em um estágio interessante em relação aos suportes pela quais podemos acessar livros. E dados criados por autores, estimulados pela democratização das ferramentas de compartilhamento, geram tráfego na rede para usuários interessados em uma infinidade de informações e conteúdo, e onde parte delas é acessada através dos eBooks.

Os escritores são os responsáveis por uma quantidade exorbitante de dados computacionais criados diariamente em redes sociais, sites, blogs, livrarias online, bibliotecas digitais, etc., cada das já com pelo menos uma empresa ou marca testando cada uma seu próprio modelo de exploração comercial.

Mas, no futuro, há indícios de que a criação, o armazenamento, o acesso e a leitura dos livros possam estar atrelados a um cenário talvez bastante diferente deste que hoje o mercado literário está inserido.

Onde nada se cria, e tudo se compartilha

O armazenamento e o posterior acesso aos livros torna-se parte de uma problemática computacional, na medida em que os usuários, tanto autores quanto leitores, registram e acessam informação e conhecimento em forma de conteúdo em uma velocidade equivalente as suas necessidades diárias.

Parte do arsenal tecnológico existente atualmente, porém, por mais que tentem igualar a velocidade das necessidades humanas de acesso ao conhecimento, encontram barreiras que vão desde o próprio hardware – cujo item menos inovador é a bateria que mantém as máquinas de leitura acesas – até o item ‘acesso’ que, por sua vez, sempre acaba esbarrando nos limites de carregamento das bandas de transmissão.

Mesmo com o avanço na velocidade dos processamentos computacionais, no armazenamento e acesso aos bilhões de dados criados pelos escritores, ainda vai levar algum tempo para termos, por exemplo, itens como baterias melhores em nossos equipamentos de leitura.

Mas, para se ter uma ideia da [r]evolução que presenciaremos na área de armazenamento e acesso a informação, cientistas da Universidade de Southampton, na Inglaterra, criaram um HD baseado em um cristal capaz de armazenar 360 terabytes de dados [equivalente a meio milhão de CDs]. A super memória criada utiliza nanotecnologia e, segundo o professor Pete Kazansky, que supervisionou a equipe de desenvolvimento, permite que as informações sejam guardadas por até 500 mil anos.

Só esta tecnologia, se ganhasse uma aplicação no dia-dia do mercado, já seria suficiente para resolver o problema da perda de dados dos livros digitais. “É emocionante pensar que foi criado o primeiro artefato capaz de sobreviver à raça humana”, disse professor Pete ao canal CNET.

Vencido algumas barreias no desempenho das máquinas de memória de cristal, imaginemos um sistema de armazenamento de dados inspirado em nossa própria natureza biológica: o DNA.

Dinâmica No Armazenamento

A estrutura molecular de DNA foi descoberta em 1953 por James Watson e Francis Crick. E é inspirado no funcionamento do DNA que atualmente muitos outros cientistas trabalham em uma variante microcomputacional baseada em biologia molecular, em contrapartida àquela baseada no condutor de silício [usado nas modernas máquinas de leitura].

Desde a década de 1950 até aproximadamente a década de 2020, há uma estimativa de que os chips das máquinas convencionais alcancem dimensões minúsculas. Mas a nanocomputação, porém, irá influenciar definitivamente no tamanho dos componentes eletrônicos que compõem gadgets modernos e os equivalentes a notebooks, tablets, smartphone e e-readers.

Uma máquina microcomputacional molecular pode ser infinitamente mais leve [se este for o desejo em alguma aplicação prática] que qualquer máquina de leitura e processamento de informações já criadas pelo homem. Independente de suas telas, as máquinas de leitura poderão ser finalmente flexíveis e dobráveis tais qual o suporte papel.

As moléculas de DNA, além de minúsculas, são consideradas eficientes na elaboração de uma máquina microcomputacional sem o gasto de energia necessário nas máquinas modernas.

Segundo Nick Goldman, do Instituo de Bioinformática, “o DNA é incrivelmente compacto e não precisa de nenhum tipo de energia para ser armazenado. É fácil transportá-lo e guardá-lo.” Ou seja, se uma máquina computacional qualquer fosse desenvolvida utilizando a tecnologia molecular, parte do problema que temos hoje em dia com relação à duração das baterias, por exemplo, seria resolvido sem a necessidade de investir em novas soluções energéticas para tantos gadgets.

Livros invisíveis

Diante de um cenário onde o hardware de leitura se nano-naturaliza, é como se todos os livros, de todas as livrarias e bibliotecas do mundo, coubesse literalmente na palma da mão de um leitor. Se o leitor puder simplesmente, utilizando por exemplo uma tecnologia do tipo holográfica, imprimir a informação em qualquer superfície disponível, neste momento talvez haja finalmente a desmaterialização dos livros.

Os livros seriam acessados diretamente em nível informacional, ao invés de se usar qualquer tipo de suporte para isso. Os suportes, neste estágio, seriam necessários apenas para justificar algum tipo de cultura baseada em produtos físicos, palpáveis, tangíveis, que pudessem ser vendidos. Afinal, o mercado precisa disso.

As máquinas de acesso e leitura modernas, embora nos pareçam rápidas em comparação aos computadores da década de 1980, por exemplo, e embora possam carregar muitos livros, elas só podem processar praticamente uma informação por vez, daí a necessidade de se desenvolver computadores com chips duplos, trabalhando paralelamente. Já a máquina de acesso e leitura do futuro irá praticamente mimetizar o cérebro humano, no sentido que permitirão o acesso direto e simultâneo [ao mesmo tempo] a diversas fontes bibliográficas.

A máquina de acesso e leitura do futuro permitirá o acesso, carregamento e leitura simultâneos a mais de 10 milhões de arquivos de livros por segundo. Imagine uma aplicação desta proporção voltada às bibliotecas do futuro?

A microcomputação em nível molecular possibilita este cenário pois baseia-se na química orgânica usando DNA para processar informação. A própria microcomputação já é uma realidade, pois ocorre em dispositivos físicos, no mercado atual em e-readers. Mas somente o cérebro humano estaria apto a acompanhar tal velocidade no aprimoramento no nível de acesso direto aos livros.

Alguns vão logo achar todo esse cenário como pura ficção científica, mas deveriam considerar antes que uma equipe de cientistas dos Estados Unidos e do Japão estão testando uma máquina computacional com duas moléculas de largura com propriedades condutoras similares às do cérebro humano, sem nenhum tipo de fiação.

Não se trata de ficção científica a ideia de usar moléculas como um microprocessador de livros uma vez que as moléculas já permitem o processamento de um tipo de informação que lhe é natural. As informações contidas no próprio DNA já são consideradas binárias e, portanto, podem ser usadas também para as aplicações digitais.

Pesquisadores confirmam que é possível mimetizar a estrutura do DNA, em um similar sintético, artificial, para armazenar textos, sons e imagens. Para estes verdadeiros magos da computação, em breve será possível preservar por centenas de anos, em apenas um grama de DNA sintético, milhares de CD-ROMs. E já provaram suas teses decodificando com exatidão todas as informação que conseguiram armazenar em um protótipo.

Em um cenário de aplicações de nanocomputação, baseadas em tecnologia molecular, a cloud computing fará cada vez mais sentido, uma vez que até as nuvens, as reais, são carregadas por moléculas.

Empacotando livros digitais

Não estamos, como dito, levando em consideração a indústria editorial. Todo o mercado editorial também pode se desmaterializar em um cenário dominado pela indústria científica e tecnológica, que pode ou não, em um dado momento crucial, considerar [des]necessária toda a exploração comercial de inovações e aplicações voltada ao mundo da informação. Os livro são formados por informações e estas podem continuar sendo no futuro o item básico de qualquer aplicação desenvolvida para fins de obtenção do conhecimento. Mas isto não quer dizer que teremos um mercado formado ao redor destas aplicações como temos e entendemos hoje.

Não estamos, tão pouco, com esta nossa viagem ao futuro, mais um vez, como muitas vezes já foi feito, decretando o fim do livro. Não que isto esteja fora de cogitação. O objetivo é fazer autores, editores e outros agentes da cadeia produtiva do livro pensarem fora da caixa [das caixas feitas de brochura, costuradas, e daquelas feitas com o uso do silício]. Poderíamos assim conseguir separar a questão tecnológica que hoje envolve o mundo dos livros, da questão do consumo e da leitura em constantes mudanças.

Pode ser possível, por exemplo, no futuro, simplesmente fazer o download de um pacote de livros diretamente para os nossos cérebros, sem passar por nenhuma máquina com tela de leitura [nem mesmo um óculos, que seja]. Neste sentido, a exploração dos pacotes de informação poderá definir talvez um novo mercado. E, se neste [im]provável futuro, um pacote de informações computacionais feito de letras, parágrafos, capítulos, enfim, for chamado de livro, então seu download pode literalmente estar livre dos hardwares. E mais voltados aos softwares de inteligência artificial.

Mas quais serão as implicações culturais, jurídicas, e porque não dizer comerciais, se um dia a atual tecnologia de armazenamento e acesso aos livros for superada? Afinal, o que são hoje em dia os livros, se não zeros e uns empacotados em um tipo de átomo chamado bit?

Ednei Procópio, 37 anos, é empresário e um dos maiores especialistas em livros digitais no Brasil, atuando na área desde 1998. Em 2005, Procópio publicou “Construindo uma Biblioteca Digital” e em 2010 lançou “O Livro na Era Digital”. Seu último livro “A Revolução dos eBooks”, está sendo publicado pela Editora do Senai no início de 2014.

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