E se, para fortalecer a indústria e o mercado editorial livreiro, nesse momento de estagnação, fosse criada a primeira Rede Pública de Livrarias por meio de de um projeto de Política de Estado?
Por Ednei Procópio
Por não ter planejadoa uma sólida estrutura para Mercado Editorial Livreiro, nas décadas de 1990 e os anos 2000, o mercado editorial tem enfrentado sérias dificuldades para fazer os livros chegarem até o leitor comum. Hoje, os livros são considerados caros, inacessíveis, pela maioria da população. Mas, independente do valor que os livros mantém no consiente coletivo, a população necessita das livrarias físicas tanto para ter acesso aos livros quanto para acostumar-se ao acesso e ao consumo dos livros.
Em um projeto de Política Pública de Estado, como esse, proponho uma ideia relativamente simples, um projeto tanto para fortalecer o Mercado Editorial Livreiro, nesse intervalo em que o mercado necessitará de um tempo para se recompor, quanto para trazer ao Governo seu papel em transformar São Paulo em um Estado de Leitores.
Antes de adentrar ao projeto em si, vamos ao cenário e aos recorte:
O CENÁRIO
FONTE: Folha de S.Paulo
Perto de 75% dos livros, no Brasil, estão nas mãos de apenas 20% da população. Perto de 230 milhões de livros estão nas mãos de apenas 35 milhões de leitores. Para transformar São Paulo em um Estado de Leitores precisamos, portanto, democratizar o acesso aos livros.
No geral, sessenta e um por cento da população brasileira adulta alfabetizada têm pouco ou nenhum contato com os livros e, portanto, está fora da indústria cultural de livros. Além do fortalecimento dos programas de alfabetização, precisamos permitir que os leitores tenham o prazer de adquirir as obras que gostaria de ler.
Exatos 45% da população brasileira não lê nenhum exemplar por ano. Precisamos alterar essa realidade para que 50% da população brasileira tenha lido ao menos um exemplar por ano.
A um cenário negativo somam-se perto de 18 milhões dos brasileiros que não sabem ler. O leitor médio [teoricamente alfabetizado] lê apenas 2 livros por ano. E apenas 17 milhões de leitores brasileiros lêem um livro por ano. Já pensou se pudéssemos colabora com o processo de alfabetização dos cidadãos dentro de uma livraria? Podemos, através de Políticas Públicas, elevar esse número para 30 milhões e zerar o número de alfabetizados que nunca leram um livro.
O Brasil possui pouquíssimas livrarias, não mais que duas mil delas, incluindo nesse número os diversos pontos de venda genéricos, ou seja, não exatamente livrarias especializadas, mas pontos de vendas de outras empresas abertas, na verdade, como fachadas de algumas papelarias para obterem alguns tipos de benefícios tributários.
Perto de 25% do número de livrarias pertencem às chamadas grandes redes, hoje completamente enfraquecidas de pois de inúmeros erros gerenciais, com boa parte dessas redes concentradas na região Sul e Sudeste do país, exatamente pela concentração dos 58% do total de leitores ativos.
O número de leitores ativos no país, que estão em sua maioria entre 14 e 29 anos, não chega à casa dos 40 milhões [ou seja, perto de 20% do real potencial de mercado]. Precisamos elevar esse número para ao menos 40% do potencial de mercado. Para isso, necessitamos de mais aparelhos de cultura espalhados pelas cidades. E, dentre esses aparelhos, estão as livrarias físicas. E se a iniciativa privada é incompetente e não consegue fazer o mercado emergir, então o poder público, creio, deva intevir.
Não temos mais do que 3.000 editoras [no máximo 500 delas em plena atividade], e o mercado editorial brasileiro emprega poucos menos de 30 mil profissionais [ou, no máximo, 150 mil pessoas de modo indireto, ou seja, free-lancers e terceirizados]. É preciso fortalecer esse mercado para criar mais empregos na área.
O faturamento anual do mercado editorial brasileiro representa três bilhões de reais. São vendidos aproximadamente 300 milhões de livros por ano, dependendo do ano. Porém, 60% deste número são de livros didáticos, ou seja, a cifra real na verdade está mais próxima da casa dos R$ 500 milhões. Para acaber de uma vez por todas com a dependencia do Mercado Editorial ao Governo, é preciso começar ensinando a população o acesso e consumo de livros.
E, apesar de tudo isto, o Brasil está entre os 13 países que mais consomem livros no mundo e é o primeiro na América Latina, com um potencial de mercado gigantesco ainda a ser explorado.
Podemos colocar o Brasil entre as cinco maiores potências quando o assunto for livros.
FONTE: Folha de S.Paulo
Os DESAFIOS
Os desafios do Mercado Editorial Livreiro é criar em médio e longo prazos, um consumo sadio de livros para que, no futuro, esse mesmo mercado não dependa mais do Governo, e possa crescer, amadurecer e viver sem dependências. Os desafios, são muitos:
- Garantir o acesso ao livro através de preços acessíveis e populares a um contingente potencial de leitores;
- Criar na população o gosto pelo consumo de livros;
- Fortalecer a cadeia produtiva do livro com a aquisição de livros exclusivamente através de distribuidoras;
- Manter o elo natural de compras na cadeia produtiva do livro que remunere a distribuidora, a editora, o gráfico, o autor e os demais profissionais do mercado;
- Assegurar o acesso democrático à leitura e ao livro a toda a sociedade;
- Assegurar o fomento à distribuição, circulação e consumo de bens de leitura;
- Garantir o acesso irrestrito aos livros através da disponibilidade de um novo número de livrarias em pontos estratégicos, em cidades consideradas estratégicas na primeira fase do projeto;
- Compensar o déficit atual do mercado livreiro elevando o número de livrarias em nosso País.
UMA SOLUÇÃO
O Estado de São Paulo tem apenas, aproximadamente, 650 livrarias, uma para cada 66 mil habitantes. Muitas fecharam na recente crise causada pelo golpe contra a democracia. O objetivo é duplicar, em quatro anos, esse número. É preciso inovar as Políticas Públicas voltada aos livros, criando uma geração de leitores. O objetivo desse projeto é dar ao futuro leitor brasileiro a opção de escolher qual o livro quer ler, qual o livro quer comprar, qual o livro quer consumir. Uma mudança de paradigma no conceito de inclusão sócio-cultural. E uma solução para o fortalecimento do mercado editorial brasileiro é a criação da primeira Rede Pública de Livrarias do Pais.
Vamos começar a pensar no projeto pelo Estado de São Paulo, que possui 45 milhões habitantes. A Rede Pública de Livrarias será composta inicialmente de aproximadamente 60 pontos estratégicos de venda de livros. Uma livraria para cada um dos Municípios com até 100 mil habitantes.
A Rede Pública de Livrarias também poderá oferecer um loja virtual na Internet. A loja virtual poderia ser composta de um sistema de e-commerce responsável pela centralização da base de dados e cadastro composta de títulos, leitores, editoras e distribuidoras.
- Cada livraria da rede pública terá um acervo mínimo de aproximadamente 30 mil títulos disponíveis;
- O acervo geral da Rede Pública de Livrarias deverá atender aos requisitos mínimos recomendados pela UNESCO;
- Cada livraria da rede pública terá como meta o atendimento a cerca de cinco mil leitores e consumidores, por mês;
- Cada livraria da rede pública terá como meta o faturamento mínimo de R$ 300 mil reais anuais e o lucro, é claro, é automaticamente revetido para o próprio projeto;
- Todo o acervo de livros da rede pública de livrarias será comercializado com desconto para os leitores;
- Todas os pontos de vendas serão temáticos e terão como referência uma personalidade da cultura popular brasileira;
- A Rede Pública de Livrarias será definitivamente uma porta de entrada para o universo da leitura para muito brasileiros;
- A Rede Pública de Livrarias será o incentivo que faltava para que mais leitores tenham a oportunidade de comprar, consumir e ler os livros.
AS PARCERIAS
Além das Secretarias Estaduais de Educação e Cultura de São Paulo, o Governo Federal, através do Ministério da Educação — MEC e Ministérios da Cultura — MinC serão um dos principais parceiros e promotores de toda a operação da Rede Pública de Livrarias.
Porém, as demais entidades de classe, além da iniciativa privada, também podem apoiar a Rede Pública de Livrarias enquanto parceiros diretos.
O DESENHO DE UMA POSSÍVEL OPERAÇÃO
Para se ter uma ideia e compreender melhor as diferenças entre bibliotecas e livrarias, públicas e privadas, conheça a história da Livraria Pública da Bahia, uma iniciativa de 1811, do então Coronel Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco.
Para mais detalhes sobre o projeto Rede Pública de Livrarias, contate edneiprocopio@gmail.com