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Censura e Perseguição ao Livros no Mundo

Há algum tempo venho atualizando um texto sobre a Censura literária no Brasil fascista. Nos últimos anos, no entanto o mundo também tem testemunhado um aumento alarmante da censura e repressão contra livros, escritores, editoras e livrarias. O que antes era visto como um fenômeno isolado, restrito a regimes autoritários, hoje se expande para democracias consolidadas, revelando uma crescente intolerância ideológica e um retrocesso no direito à livre expressão.

Seja sob justificativas morais, religiosas ou políticas, livros estão sendo proibidos, livrarias invadidas e escritores perseguidos em diferentes partes do globo.

A seguir, detalho alguns dos episódios iniciais mais recentes e preocupantes de censura literária e perseguição a profissionais do setor.

Estados Unidos | O Crescente Banimento de Livros

Nos EUA, a censura a livros tem sido particularmente evidente em estados como a Flórida, Texas e Missouri. Nos últimos anos, a remoção de obras de bibliotecas escolares aumentou exponencialmente. Entre os livros banidos estão “Maus” de Art Spiegelman, um clássico sobre o Holocausto; “O Conto da Aia” de Margaret Atwood, uma distopia feminista; e “1984” de George Orwell, um romance sobre o totalitarismo. As justificativas variam entre acusações de “conteúdo sexualmente explícito”, “material inapropriado para crianças” ou “promover ideologias radicais”.

Durante a administração de Donald Trump, medidas de controle e censura foram reforçadas. Recentemente, o governo republicano promoveu diretrizes mais rígidas para a adoção de livros em escolas, resultando na exclusão de diversas obras consideradas “progressistas”. O impacto se reflete em um ambiente onde professores e bibliotecários têm receio de indicar certas leituras por medo de retaliação.

Argentina | Escritoras Perseguidas e Acusações de “Pornografia”

Na Argentina, quatro escritoras foram alvo de uma campanha de censura promovida por grupos conservadores com apoio do governo Milei. Gabriela Cabezón Cámara (“Las aventuras de la China Iron”), Dolores Reyes (“Cometierra”), Aurora Venturini (“Las primas”) e Sol Fantin (“Si no fueras tan niña”) tiveram suas obras removidas de bibliotecas escolares da província de Buenos Aires. A justificativa usada foi a suposta “obscenidade” e “conteúdo impróprio” para jovens.

As autoras passaram a receber ameaças online e foram alvo de campanhas difamatórias. O episódio gerou protestos da comunidade literária e de entidades de direitos humanos, que alertaram para um retrocesso na liberdade de expressão no país.

Israel e Palestina | Apreensão de Livros e Prisões

Em fevereiro de 2025, a polícia israelense invadiu livrarias palestinas em Jerusalém Oriental, confiscando livros e prendendo proprietários. Entre as obras apreendidas estava até mesmo um livro infantil para colorir, intitulado “River to the Sea”. O governo israelense alegou que os materiais continham mensagens “subversivas” ou “incitamento à violência”.

As incursões foram amplamente condenadas por grupos de direitos humanos e geraram tensões diplomáticas. O Brasil, por exemplo, emitiu uma nota oficial em defesa de um dos livreiros presos, destacando a importância da preservação do acesso à literatura na região.

México | Queima de Livros Didáticos

No México, a polêmica em torno da reforma educacional promovida pelo governo de Andrés Manuel López Obrador culminou em atos de censura extrema. Em 2023, grupos opositores incendiaram livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação. A principal alegação era que os materiais promoviam uma “doutrina comunista” e ideias “pró-LGBTQIA+”.

O episódio gerou intensa polarização no país, com manifestações tanto a favor quanto contra os livros. Especialistas alertaram para os riscos de permitir que censura ideológica interfira na educação pública.

Europa | O Caso do Banimento de Livros LGBTQIA+

Na Hungria e Polônia, governos de extrema-direita intensificaram medidas contra livros que abordam questões de gênero e diversidade sexual. Na Hungria, leis aprovadas em 2021 seguem impactando o mercado editorial, obrigando livrarias a lacrar ou etiquetar livros com “conteúdo LGBTQIA+”. O clássico “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, foi um dos livros censurados por conter “passagens que podem influenciar negativamente jovens”.

Na Polônia, editoras independentes enfrentam ameaças e boicotes, enquanto alguns escritores relatam dificuldades em publicar obras que tratam de direitos humanos e história política crítica ao governo.

Um Retrocesso Mundial à Liberdade Literária

Os episódios mencionados revelam uma preocupante tendência global de censura e repressão ao pensamento crítico. Sejam governos autoritários ou democracias em crise, o ataque à literatura reflete um desejo de controle ideológico e repressão de vozes dissidentes. A história mostrou que a censura nunca resulta em progresso, apenas em obscurantismo e violação de direitos fundamentais.

Defender a liberdade literária é um compromisso com a democracia e a pluralidade de ideias. À medida que tentativas de silenciar autores e editoras aumentam, cresce também a responsabilidade de leitores, escritores e intelectuais em resistir a esse retrocesso.


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